Qual o nível de segurança das normas para estruturas metálicas? Será que é exagero?

Cobertura metálica

Quantas vezes escutei que “Essas normas (ou esses engenheiros) exageram demais,não precisava disso tudo não, eu faria com a metade do peso e ia ficar de pé do mesmo jeito, há 350 anos que trabalho assim e nunca tive problemas, blá, blá, blá…”
A gente escuta isso sempre… e eu até posso compreender que a pessoa pense assim se ela não teve nenhuma formação técnica na área de cálculo estrutural, mas o problema é que escutamos isso de alguns engenheiros também, e nem tanto por culpa deles, mas a verdade é que a formação sobre normas nas faculdades é bastante precária, isso quando esse tema é abordado. Mas se você continuar lendo vai perceber que as normas seguem fundamentos lógicos bastante coerentes e que se você compreendê-las corretamente pode evitar grandes problemas futuros.
Não projetamos só para “ficar em pé”
“Ficar em pé” não pode ser o único critério adotado. A interação da estrutura com as alvenarias, janelas, e outros componentes da edificação devem ser considerados… não podemos projetar estruturas estruturas apenas para suportar cargas, mas também consideramos a estrutura interagindo com esses outros elementos. Chamamos esses critérios de ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO… caso contrário podemos ter fissuras, trincas, vazamentos, infiltrações e uma série de outros problema devido à grande deformabilidade da estrutura, e isso também deve ser controlado pelo projetista.

Estatísticas não mentem, apenas se escondem de vez em quando.
Já dizia um famoso escritor que a estatística é “a ciência que diz que, se eu comi um frango inteiro, e tu não comeste nenhum, temos comido em média meio frango cada um”.
A metodologia de cálculo adotada pelas normas brasileiras é o MÉTODO DOS ESTADOS LIMITES, um método estatístico, que considera cada tipo de carga de forma diferente, levando em conta que cada uma poder conter mais incertezas do que outras. O peso de uma telha por exemplo não está sujeito à mesma incerteza da carga de vento, e por isso deve ser tratado de forma diferente, e nada mais lógico do que isso. Essa metodologia é diferente do Método das Tensões Admissíveis, um método determinístico, que foi usado por décadas no mundo todo, que não considera as incertezas das cargas variáveis ou seja, trata todas as cargas igualmente. Ou seja, o método que usamos trabalha com base em probabilidades, portanto, pode ser que realmente as cargas nunca sejam excedidas… mas o contrário também é possível, existe a chance real de acontecer uma catástrofe. Para ter uma ideia da ordem de grandeza das probabilidades, Confira os números adotados pelas normas:
NBR6123/88: A carga de vento máxima tem 63% de probabilidade de ocorrer em um período de 50 anos
NBR6120/19: As ações Variáveis têm entre 25% e 35% de probabilidade de serem ultrapassadas em um período médio que varia entre 117 anos e 174 anos (sendo que na pior hipótese pode ser excedido em 50 anos).
Além disso as cargas são majoradas em média 45%, e são descontados cerca de 10% da resistência teórica das peças, para compor Fator de Segurança.
Mesmo assim, depois de todas essas fatorações, ainda existe menos de 1% de probabilidade de ocorrência de falha crítica na estrutura, é pouco, MAS EXISTE.
Você se arrisca?
1) Se as cargas previstas excederem seus valores máximos (63% de chance para o vento e 25% de chance para as sobrecargas), mais da metade das estruturas construídas pelas cidades irão abaixo, e aquelas executadas conforme normas vão permanecer estáveis, com menos de 1% de chance de haver ruína. Nesse caso valeu a pena seguir a norma, ninguém morreu e os prejuízos financeiros foram evitados.

2) Se as cargas previstas jamais ocorrerem em seus valores máximos, realmente a estrutura estaria superdimensionada  e teria sido mais vantagem construir com o serralheiro que “sempre fez assim e nunca teve problema”. Nesse caso nem dá pra medir as probabilidades de falha pois cada construtor tem um critério particular de “sempre fiz assim”. Uns fazem sempre “assim”, outros fazem sempre “assado”. Ou seja, emoção pura, Segura coração!. Toda vez que vier aquele vendaval mais forte, vamos ter aquela sensação de frio na barriga… uma bela roleta russa.
Você arriscaria? Espero que não. 
Mas como concorrer com quem não segue as normas???? isso é assunto para outra postagem…. mas fique tranquilo que é perfeitamente possível.

Eng. Felipe Jacob

Fonte: Calculista de aço

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